A arquitetura do romance
Organização linear/cronológica do relato - ver
quadro/síntese no manual, pág. 217
Assim, podemos distinguir três partes, seguidas de um epílogo,
na arquitetura do romance:
Capítulos I a VIII
Ida de D. João V à alcova da rainha para a engravidar e
assim assegurar a sua sucessão no trono
Ida ao local onde quer erigir o convento
Vitória dos franciscanos na guerra das influências
Capítulos IX a XVI
(1713-1722)
Projeto da passarola voadora
Construção do convento, com Bartolomeu ausente dos caps. X a
XII
Primeiro voo da passarola (cap. XVI), sobrevoando o convento
em construção
Capítulos XVII a XXIV
(1723-1730)
Construção do convento com Baltasar entre os trabalhadores
Notícia da morte do padre Bartolomeu, anunciada pelo
compositor, em 1724
Desaparecimento de Baltasar na passarola em 1730, com o
convento inacabado
Capítulo XXV
Errância de Blimunda procurando Baltasar até o encontrar no
auto-de-fé final
Centrado no anacronismo (visão
profética do futuro em relação ao presente do enunciado e passado visto à luz
do presente), Memorial do Convento
tem uma arquitectura discursiva que subverte a monumentalidade do texto, pondo
em confronto a construção de um monumento, que serve o discurso do poder e a
construção de uma passarola, metáfora da liberdade que sobrevoa o monumento que
está preso ao chão. Se o convento é resultado da carne petrificada da gente do
povo, já a passarola é-o da recolha das vontades desse mesmo povo.
A literatura consegue, assim,
preencher os silêncios da história: nesta só se fala do monumento construído;
naquela é a voz dos trabalhadores que se faz ouvir.
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