9.5.12

O AMOR


O Amor em Memorial do Convento

D. João V + D. Maria Ana Josefa
O real cobridor e a devota parideira
Baltasar e Blimunda
Sete-Sóis e Sete-Luas
Adúltero
Devasso
Procura o amor carnal (sexo) com as freiras de Odivelas
Não ama o rei
Muito devota
Sonha com o cunhado
Apaixonados
Encantados (olhos)
Fidelidade

Relações obrigatórias
Casamento por procuração
Cumprimento da função de procriar
União abençoada por Bartolomeu
Não amor
Amor eterno, espiritual, verdadeiro

Etapas da relação Baltazar/Blimunda- pág. 251

Apresentação de Baltasar
IV
35-39
24-27
Apresentação de Blimunda, filha de Sebastiana de Jesus, amiga de Bartolomeu
V
49-53
34-36
Encontro de Baltasar e Blimunda

53
37
Retrato de Blimunda

54-55
38-39
União dos dois, por Bartolomeu

56
39
B&B em S. Sebastião da Pedreira
IX
87-88
61
B&B instalam-se em Mafra, em casa dos pais
X
101
71
B&B voltam para Lisboa



B&B de novo em Mafra



Baltasar desaparece na passarola
XXIII
335

Blimunda procura Baltasar e mata o frade
XXIV
340-341

Blimunda procura Baltasar durante 9 anos e encontra-o finalmente em Lisboa, num auto-de-fé, juntamente com outros supliciados
XXV
353-355
251



AMOR VERDADEIRO versus AMOR RIDÍCULO

«Mais de três quartos do romance ocupa-se de outro casal - Baltazar e Blimunda. São dois pobres diabos, um mutilado de guerra e a filha de uma exilada pelo Santo Ofício. Considerando-se os dois casais D. João V e D. Maria Ana, Baltasar e Blimunda vemos que o poder do casal da corte é compensado pelo amor do casal plebeu. Esse amor os une desde o primeiro momento, quando assistem ao-auto-de-fé e à passagem da condenada Sebastiana Maria de Jesus, a herética e temerária mãe de Blimunda, até a morte de Baltasar Sete-Sóis na fogueira do Santo Ofício. Ele, que nove anos antes desaparecera na máquina voadora, no último momento deixa sua vontade com a mulher que, durante aqueles nove anos palmilhara as terras portuguesas à sua procura. Registe-se aqui a circularidade mítica do percurso dos amantes: o Rossio é o cenário do início e do desfecho de seus amores; ironicamente, o Santo Ofício os une e os separa. A vida comum desse casal fora feita de respeito mútuo e harmonia. Há no homem uma falta - a do braço esquerdo perdido na guerra - e, na mulher, um excesso - o de visão, pois tem, quando em jejum, olhos de raio X. E eles se completam. O amor deles cresce no transcurso dos anos e isso se evidencia em sua viagem idílica feita de Mafra ao Monte Junto onde estava a máquina voadora, dezasseis anos depois de se conhecerem. O acto de amor realizado no interior da passarola (máquina que, entre outros sentidos, pode ser entendida como metáfora do sonho, da fantasia) em tudo se contrapõe ao cumprimento do dever conjugal - "conjunção mística do dever carnal" – pelos monarcas, precedido de um ritual de que participam dois camaristas do rei e três damas, camareiras da rainha. O carácter ridículo de que se reveste a cena na câmara real mais se acentua à aproximação da cena do Monte Junto onde impera a espontaneidade, o enlevo, o prazer. É interessante lembrar as ocupações dos dois casais momentos antes dos episódios referidos. O rei ocupava-se da montagem da miniatura da catedral de S. Pedro, limitando-se a encaixar as peças que lhe eram entregues por quatro camaristas, um simulacro de trabalho de construção artística. A rainha, aguardava o marido na sua câmara , conversando com a camareira-mor sobre as devoções do dia. Baltasar e Blimunda, depois de uma viagem idílica em que não faltou uma capela de flores sobre a cabeça do burrinho, trabalharam juntos o dia inteiro na restauração da passarola. Aqui, o verdadeiro trabalho, a verdadeira união, o verdadeiro amor; na corte, a ligação de interesse político, a pantomina. Assim é apresentada ao leitor a intimidade dos detentores do poder político contraposto à dos plebeus.»

Nancy Maria Mendes**

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