O Amor em Memorial do Convento
D. João V
+ D. Maria Ana Josefa
O real cobridor e a devota parideira
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Baltasar e
Blimunda
Sete-Sóis
e Sete-Luas
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Adúltero
Devasso
Procura o amor carnal
(sexo) com as freiras de Odivelas
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Não ama o rei
Muito devota
Sonha com o cunhado
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Apaixonados
Encantados (olhos)
Fidelidade
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Relações obrigatórias
Casamento por procuração
Cumprimento da função de
procriar
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União abençoada por
Bartolomeu
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Não amor
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Amor eterno, espiritual,
verdadeiro
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Etapas da relação Baltazar/Blimunda- pág. 251
Apresentação de Baltasar
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IV
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35-39
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24-27
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Apresentação de Blimunda,
filha de Sebastiana de Jesus, amiga de Bartolomeu
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V
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49-53
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34-36
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Encontro de Baltasar e
Blimunda
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53
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37
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Retrato de Blimunda
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54-55
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38-39
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União dos dois, por
Bartolomeu
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56
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39
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B&B em S. Sebastião da
Pedreira
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IX
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87-88
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61
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B&B instalam-se em
Mafra, em casa dos pais
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X
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101
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71
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B&B voltam para Lisboa
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B&B de novo em Mafra
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Baltasar desaparece na
passarola
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XXIII
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335
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Blimunda procura Baltasar e
mata o frade
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XXIV
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340-341
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Blimunda procura Baltasar
durante 9 anos e encontra-o finalmente em Lisboa, num auto-de-fé, juntamente
com outros supliciados
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XXV
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353-355
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251
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AMOR VERDADEIRO versus AMOR RIDÍCULO
«Mais de três quartos do romance ocupa-se de outro casal - Baltazar e Blimunda. São dois pobres diabos, um mutilado de guerra e a filha de uma exilada pelo Santo Ofício. Considerando-se os dois casais D. João V e D. Maria Ana, Baltasar e Blimunda vemos que o poder do casal da corte é compensado pelo amor do casal plebeu. Esse amor os une desde o primeiro momento, quando assistem ao-auto-de-fé e à passagem da condenada Sebastiana Maria de Jesus, a herética e temerária mãe de Blimunda, até a morte de Baltasar Sete-Sóis na fogueira do Santo Ofício. Ele, que nove anos antes desaparecera na máquina voadora, no último momento deixa sua vontade com a mulher que, durante aqueles nove anos palmilhara as terras portuguesas à sua procura. Registe-se aqui a circularidade mítica do percurso dos amantes: o Rossio é o cenário do início e do desfecho de seus amores; ironicamente, o Santo Ofício os une e os separa. A vida comum desse casal fora feita de respeito mútuo e harmonia. Há no homem uma falta - a do braço esquerdo perdido na guerra - e, na mulher, um excesso - o de visão, pois tem, quando em jejum, olhos de raio X. E eles se completam. O amor deles cresce no transcurso dos anos e isso se evidencia em sua viagem idílica feita de Mafra ao Monte Junto onde estava a máquina voadora, dezasseis anos depois de se conhecerem. O acto de amor realizado no interior da passarola (máquina que, entre outros sentidos, pode ser entendida como metáfora do sonho, da fantasia) em tudo se contrapõe ao cumprimento do dever conjugal - "conjunção mística do dever carnal" – pelos monarcas, precedido de um ritual de que participam dois camaristas do rei e três damas, camareiras da rainha. O carácter ridículo de que se reveste a cena na câmara real mais se acentua à aproximação da cena do Monte Junto onde impera a espontaneidade, o enlevo, o prazer. É interessante lembrar as ocupações dos dois casais momentos antes dos episódios referidos. O rei ocupava-se da montagem da miniatura da catedral de S. Pedro, limitando-se a encaixar as peças que lhe eram entregues por quatro camaristas, um simulacro de trabalho de construção artística. A rainha, aguardava o marido na sua câmara , conversando com a camareira-mor sobre as devoções do dia. Baltasar e Blimunda, depois de uma viagem idílica em que não faltou uma capela de flores sobre a cabeça do burrinho, trabalharam juntos o dia inteiro na restauração da passarola. Aqui, o verdadeiro trabalho, a verdadeira união, o verdadeiro amor; na corte, a ligação de interesse político, a pantomina. Assim é apresentada ao leitor a intimidade dos detentores do poder político contraposto à dos plebeus.»
Nancy Maria Mendes**
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