18.3.12

O TÍTULO E A ESTRUTURA





«O meu livro "Mensagem" chamava-se primitivamente "Portugal". Alterei o título porque o meu velho amigo Da Cunha Dias me fez notar - a observação era por igual patriótica e publicitária - que o nome da nossa Pátria estava hoje prostituído a sapatos, como a hotéis a sua maior Dinastia. "Quer V. pôr o titulo do seu livro em analogia com "portugalize os seus pés"? "Concordei e cedi, como concordo e cedo sempre que me falam com argumentos. Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a Razão, seja quem for o seu procurador.
Pus-lhe instintivamente esse título abstracto. Substituí-o por um título concreto por uma razão…
E o curioso é que o título Mensagem está mais certo - à parte a razão que me levou a pô-lo - de que o título primitivo.»


A razão que levou à mudança de título tem uma chave, dada pelo próprio Pessoa. A palavra portuguesa Mensagem é, como diz J. A. Seabra, "derivada anagramaticamente" da fórmula de Anquises, quando explica a Eneias, descido aos infernos, o sistema do Universo: "Mens ag (itat mol) em': "o espírito move a massa". É uma maneira de o poeta afirmar logo à partida o seu idealismo absoluto."

A obra apresenta uma estrutura tripartida:

1. Brasão (o passado/o nascimento) – compreende poemas alusivos a heróis lendários e históricos, desde Ulisses a D. Sebastião/ os fundadores;

2. Mar Português (a vida) – compreende poemas inspirados na ânsia do desconhecido e no esforço heróico da luta contra o mar;

3. O Encoberto (a morte que contém o gérmen da ressurreição) – poemas em que se evidencia o sebastianismo profético e a necessidade de regeneração da pátria, para dar origem a um novo ciclo de vida (o Quinto Império);

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