16.11.11

Os Heterónimos

óleo s/tela de Costa Pinheiro

Alberto Caeiro apresenta-se como um guardador de rebanhos, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade com a qual contactou a todo o momento.Considera que “pensar é estar doente dos olhos”, ver é conhecer e compreender o mundo, por isso pensa vendo e ouvindo. A Caeiro só interessa vivenciar o mundo que capta pelas sensações, é nesta medida um sensacionista a que o sentido das coisas é reduzido à percepção da cor, da forma e da existência. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que pensar é não compreender. Insistindo naquilo a que chama “aprendizagem de desaprender”, ou seja aprender a não pensar, para se libertar de todos os modelos ideológicos, culturais ou outros e poder ver a realidade concreta. Vive de acordo com a natureza na sua simplicidade e paz e vê-a na sua constante renovação, aderindo espontaneamente ás coisas, tais como são e procura gozá-las com despreocupada e alegre sensualidade apreciando a beleza das coisas na sua originalidade e na sua simplicidade.

Ricardo Reis é um poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma  lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. Os poemas: “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio” e “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” são exemplo de que Ricardo Reis aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende sobretudo, a busca de uma felicidade relativa,alcançada pela indiferença à perturbação. A filosofia de Ricardo Reis é a de epicurista triste, pois defende o prazer do momento, o carpe diem, como caminho da felicidade,mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar do prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a “ataraxia” (tranquilidade sem qualquer perturbação). Sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino,indiferente à dor e ao desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico lúcido e disciplinado.

Para Álvaro de Campos a sensação é tudo. O sensacionismo torna a sensação a realidade da vida e a base de arte. O "eu" do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalização das sensações, mas sobretudo das perceções conforme as sente. O sensacionismo de Álvaro de Campos começa na premissa de que a única realidade é a sensação, a complexidade e dinâmica da vida moderna provoca-lhe a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações. A obra de Álvaro de Campos, passa por 3 fases: a decadentista - que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações; a futurista e sensacionista, que se caracteriza pela exaltação da energia,  e a intimista, que perante a incapacidade das realizações produz frustração. Álvaro de Campos revela como Pessoa a mesma inadaptação à existência, mas pela sua violência e fraqueza clarifica o que em Pessoa ficou discreto e implícito.








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